Na luta pela água, o maior inimigo é o agronegócio


Na luta pela água, o maior inimigo é o agronegócio
 
LUDMILLA BALDUINO
Disponível em Opera Mundi


E nestes momentos em que eventos grandiosos como esse são praticamente invisíveis, precisamos usar o que nos resta, que é o nosso corpo, para estarmos presentes, dando voz e escutando ativamente o que eles têm a dizer.

É participar da massa, fazer volume, estar aqui.

Porque depois não vai ter água para a gente, não. Mas a Coca-Cola, a Nestlé, a Ambev, vão ter. E aí a decisão fica a critério de cada um: fazer voz a quem está na luta e engajar nessas lutas ou fechar os olhos e meter um líquido industrializado, com traços de sangue e suor do povo, goela adentro.

Quem dera a nossa luta fosse apenas contra essas três poderosas. Todo mundo está de olho na nossa água. Quando eu digo a nossa água, não falo da água do Brasil. Água é um bem da natureza. É internacional. É de todo mundo. Deveria ser de graça.

Aqui, na luta pela nossa água, as vozes de todos os países confluem para uma conclusão óbvia: nosso inimigo maior é o agronegócio.

Voltando para o Brasil, de acordo com dados da Unesco, o país exporta, todo ano, 112 trilhões de litros de água. Não que esse aguaceiro todo viaje de caminhão-pipa para outras partes do mundo. A água é exportada em forma de soja, milho e carne.

É nas lavouras de transgênicos e nos pastos de criação de gado bovino, que já são condenáveis por contaminar nossas terras e águas com agrotóxico, que o Brasil mais gasta água. A irrigação de lavouras é indispensável para o crescimento da soja e do milho e para alimentar o gado, e quando chega a hora da colheita ou do abate, toda a água contida na composição dessas plantas e animais entra em caminhões e segue caminho direto para os portos.

É sempre mais fácil combater um problema quando ele é visível. No caso do agronegócio, a água exportada é quase invisível. Assim como os movimentos que tentam defendê-la. Ponto para o capitalismo, que tem a incrível capacidade de tornar invisível tudo aquilo que poderia impedi-lo de continuar devastando o planeta em prol dos lucros de poucos.

(*) Ludmilla Balduino é jornalista.



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