Inflação é (economia) política

Inflação é (economia) política 


A inflação é um fenômeno econômico que se caracteriza pelo aumento geral e contínuo dos preços dos bens e serviços em uma economia. Há várias teorias e abordagens para explicar a inflação, incluindo as perspectivas marxistas.

Karl Marx, um dos mais importantes pensadores econômicos da história, dedicou grande parte de seu trabalho ao estudo do capitalismo e suas crises. Em seus escritos, Marx argumentou que a inflação é uma consequência inevitável do capitalismo e da concorrência entre as empresas. Ele afirmava que, no capitalismo, a produção é orientada para a obtenção de lucros e não para atender às necessidades da população. Com isso, há um excesso de oferta de produtos em alguns setores e escassez em outros, o que leva a oscilações nos preços e à inflação.

Marx também destacava que a inflação pode ser utilizada como uma ferramenta política para desvalorizar a moeda e, assim, reduzir os salários reais dos trabalhadores e aumentar a taxa de exploração. Ele via a inflação como um meio pelo qual os capitalistas tentam manter sua taxa de lucro em meio a crises e a queda da taxa de lucro.

Outros autores marxistas têm se dedicado ao estudo da inflação em diferentes contextos históricos e geográficos. Em um estudo publicado na revista "Cadernos do CEMARX", da Unicamp, os autores analisaram o comportamento da inflação no Brasil desde os anos 1980. Eles argumentam que a inflação no país é um resultado da política econômica de estabilização implementada nos anos 1990, que buscou controlar a inflação por meio do controle da oferta de dinheiro. Segundo os autores, essa política gerou desigualdades sociais e econômicas e aumentou a dependência do país em relação aos mercados financeiros internacionais.

Outro estudo, publicado na revista "Revista Brasileira de Economia", da FGV, analisou a relação entre a inflação e a taxa de câmbio no Brasil. Os autores argumentam que a valorização do câmbio, que ocorreu durante o governo Lula, foi um fator importante para a queda da inflação no país. Eles afirmam que a valorização do câmbio reduziu os preços dos bens importados, o que ajudou a controlar a inflação.

Um terceiro estudo, publicado na revista "Estudos Econômicos", da USP, analisou a relação entre a inflação e o desemprego no Brasil. Os autores argumentam que a inflação pode ter efeitos negativos sobre o emprego, especialmente em países como o Brasil, onde a inflação é alta e instável. Eles afirmam que a inflação pode reduzir a demanda por bens e serviços, o que leva as empresas a reduzir a produção e o emprego.

Mas pensando as formas mais gerais, as teorias marxistas da inflação, comparando-as entre si e com a teoria econômica de Marx. As abordagens do conflito distributivo e do capital monopolista entendem a inflação como produto da ação das classes sociais e do Estado, enquanto a teoria da moeda extra a compreende como um fenômeno monetário decorrente do descompasso entre oferta e demanda por dinheiro de crédito. No entanto, todas as teorias se afastam da teoria do dinheiro de Marx, que se baseia na hipótese do equivalente geral e do valor das mercadorias. O uso pouco preciso da abstração é apontado como uma das possíveis causas desse afastamento.

Apesar disso, a teoria da moeda extra pode fornecer fundamentos para uma melhor compreensão da inflação, uma vez que a emissão monetária em volume maior do que a necessidade das trocas pode afetar a capacidade da unidade de conta de ser um representante crível do valor, implicando a sua desvalorização e a alteração no padrão dos preços. A análise crítica das teorias marxistas da inflação sugere que é necessário ir além da superfície dos fenômenos para identificar os fatores determinantes e a essência do fenômeno inflacionário, e que uma abordagem mais profunda e fundamentada pode contribuir para uma compreensão mais precisa do funcionamento da economia.

Em resumo, a inflação é um fenômeno complexo que pode ser explicado por diferentes teorias e abordagens. As perspectivas marxistas destacam a relação entre a inflação, a concorrência e a política econômica. Estudos empíricos mostram como a inflação pode afetar a economia e a sociedade em diferentes contextos históricos e geográficos.

Três correntes: 

i) Conflito Distributivo: discute a abordagem do conflito distributivo, que analisa a relação entre classes sociais e a distribuição de renda na economia, e suas críticas. Rowthorn  aponta que essa abordagem tem semelhanças com a teoria monetarista neoclássica, como a percepção do Estado como um agente exógeno e o uso da curva de Phillips-Friedman-Phelps. No entanto, Saad-Filho  critica a abordagem do conflito distributivo por supor parcerias potenciais entre classes antagônicas e por sua abordagem tautológica que não se baseia em uma estrutura mais ampla. Além disso, a abordagem do conflito distributivo precisa se relacionar com uma abordagem teórica não marxista e sua variação de preços não tem um lastro na teoria do valor-trabalho de Marx. Em resumo, a abordagem do conflito distributivo é criticada por sua falta de suporte teórico e por não estar alinhada com a teoria econômica de Marx.


ii) Teoria do capital monopolista:
A teoria da inflação pelo capital monopolista argumenta que a inflação é causada pelo poder de mercado das empresas monopolistas. Segundo essa teoria, as empresas com grande poder de mercado podem aumentar seus preços acima dos custos de produção, resultando em uma inflação persistente. Além disso, as empresas monopolistas podem limitar a oferta de seus produtos para manter seus preços elevados, agravando ainda mais a inflação. Isso se chama lucro extraordinário em Marx. O aumento do monopolista (da terra por exemplo) reflete em toda cadeia de produção chegando na realização de outros produtos.

iii) Teoria da Moeda Extra: discute a teoria do dinheiro extra como explicação para a inflação resultante da discrepância entre oferta e demanda de dinheiro, emitido por meios públicos e privados. A teoria assume que a massa de dinheiro em circulação é determinada por variáveis ​​de mercado e que mudanças nessas variáveis ​​afetam diretamente a quantidade de dinheiro em circulação. A conversa também explora as teorias marxistas da inflação, incluindo a abordagem do circuito monetário e a abordagem MELT, apontando suas deficiências. A discussão sugere que a análise da oferta de dinheiro e crédito é excessivamente simplificada, e o papel da competição intercapitalista não é claro. Além disso, a abordagem MELT difere da compreensão de Marx sobre a regulação e distribuição do trabalho social e o papel dos preços no mercado.

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